11.25.2004

Literacia Científica III

literacia EUA e Europa 2001

Ainda a literacia científica. Os EUA começaram a preocupar-se com a literacia científica dos cidadãos há mais tempo que a Europa. Nos EUA, a NSF (National Science Foundation) faz estudos para caracterizar o grau de literacia científica dos cidadãos desde 1979. Em 2001, os cidadãos americanos fizeram um questionário com as mesmas perguntas que os europeus, questionário esse que referi no post anterior. Os resultados deste inquérito e uma comparação entre os cidadãos norte-americanos e os europeus está em:
http://www.nsf.gov/sbe/srs/seind04/c7/c7h.htm
O inquérito é parte de um documento mais vasto sobre indicadores de ciência e tecnologia nos EUA que também vale a pena ler, para quem estiver interessado. A webpage em que se apresentam os resultados do questionário está muito bem feita (uns furos acima da webpage que apresenta o inquérito europeu, pouco interactiva), tem uma bibliografia extensa e permite ver alguns dados em formato excel. Os resultados apresentados sob a forma de figuras estão excelentes e as conclusões revelam um trabalho de análise de resultados bem feito.

Os resultados norte-americanos permitiram concluir entre outras coisas que :
- Os Americanos apesar de expressarem um forte apoio à ciência e à tecnologia e terem interesse pelo assunto (90% disse ter interesse), não estão bem informados sobre estes assuntos.
- A maioria de adultos americanos recebe informação sobre C&T maioritariamente pela TV. Os meios de informação escritos surgem em segundo lugar, mas a grande distância da TV.
- A compreensão de assuntos tecnológicos por parte do público fica muito aquém do interesse que o mesmo público diz ter por esses assuntos.
- Os livros sobre ciência influenciam a cultura popular e o debate público de questões políticas.
- A capacidade para responder a questões científicas não sofreu alterações entre 1990 e 2001. Ou seja o conhecimento científico do cidadão americano não melhorou neste período.

Note-se uma série de coisas que os americanos e os europeus parecem ter em comum:
- Interessam-se por C&T, mas não estão bem informados sobre o assunto e os seus conhecimentos são muito menores que o interesse que dizem ter.
- A TV é o meio privilegiado para recebem a informação sobre C&T.
- Os conhecimentos de C&T da população não melhoraram nos últimos anos.

Estes resultados parecem querer dizer que os investimentos/esforços estatais em programas de divulgação de ciência e tecnologia, quer na Europa quer nos EUA, não têm sido eficazes. Ou, em alternativa, outra leitura que se pode fazer é a de que existe apenas uma pequena parte da população, que se mantém mais ou menos constante em número, que quer realmente saber C&T e tem capacidade para apreender e aplicar conceitos de C&T. Por outras palavras a literacia científica estaria apenas ao alcance de um conjunto restrito de cidadãos qualquer que fosse o esforço estatal para a combater. Qualquer destas conclusões é extremista e para já, que eu saiba, não há estudos concretos que façam luz sobre as razões de a literacia científica não melhorar após anos de investimento para a combater.

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