6.01.2005

O Extraterrestre Poliédrico

O extraterrestre poliédrico sorvedouro de dinheiro e de tempo já abriu. Falo é claro da Casa da Música na cidade do Porto.
Há anos que o Porto merecia uma sala de espectáculos bonita e moderna feita por um arquitecto de renome. Mas como dizia a minha avózinha "o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita". Demorou séculos a ser construída, custou balúrdios, fez rolar mais cabeças que as cruzadas, perturbou o trânsito até mais não, não foi concebida para aquele sítio, nem para ser uma casa da música, nem para aquela cidade - quer por dentro, quer por fora.

A arquitectura estilo tamanco holandês não se enquadra minimamente no sítio e não me parece que os autarcas do Porto tenham planos de alterar toda a zona da Boavista para que fique a condizer com a casa da música. Aliás não me parece que os autarcas do Porto tenham planos para o que quer que seja. Os meus pêsames à população da invicta que só tem desgraças como autarcas desde tempos imemoriais.
Lá dentro esqueceram-se vagamente de pôr um fosso de orquestra por meras quezílias pessoais e fizeram uma sala enorme com mais de 1000 lugares que nunca vai encher no tempo de vida útil do edifício. Outra ideia brilhante foi a colocação das salas de ensaio na cave. Se tivermos em conta que o pequeno auditório está no quinto piso e que instrumentos como um piano não podem ir no elevador está tudo dito. Acrescente-se a sala VIP que é forrada a imitações de azulejos portugueses Séc.XVIII feitas em Photoshop e os 2 falsos órgãos agarrados às paredes do grande auditório e temos o pleno Kitsch Pimba.

 casa da musica

No fim-de-semana fui de visita ao Porto e ao edifício. Verifica-se que é uma espécie de extraterrestre que aterrou ali. Uma vez lá dentro as coisas foram de mal a pior: Degraus não sinalizados aguardam-nos cinzentos e na sombra, escadarias grandiosas não têm corrimãos, a luz quase não entra nos espaços públicos do monólito de frio betão porque não há janelas.
No desagradável bar do primeiro piso, bolos ressequidos embrulhados em película transparente exibem-se. O único cliente é um tipo gadelhudo que fuma um cigarro sentado a uma mesa e deitando a cinza para o chão. 2 mesas têm louça suja e meio prato partido jaz no chão. Um café custa 1 €. Piro-me imediatamente.
O elevador leva a parte nenhuma: Só vai até ao estacionamento disse-me a menina da bilheteira. Então e para ir ao terraço panorâmico? - Está encerrado. E o restaurante? -Também!
Desconfio que este terraço panorâmico tem uma costela de gato de Shrödinger. Quem sabe se está mesmoooo lá?

Cá fora, o despojado exterior já encontrou utilidade: Skateodromo. Vários miúdos divertem-se nas ondulações. A falta de verde é confrangedora e emparelha com a matança de todas as árvores do corredor central da Av. da Boavista em prol do Metro do Porto. A estupidez não quis ter o trabalho de encontrar alternativas.
Um minibus despeja Antony e os Johnsons nas traseiras junto à entrada dos artistas. Antony sem maquiagem é um matulão bolachudo de camisa e boné pretos estilo alternativo.
Uns 5 minutos depois acabei de dar a volta ao edifício. A minha prole personificada por um cotomiço irrequieto às minhas cavalitas acena para uma janela. Antony, de copo na mão acena-lhe de volta.


 casa da musica

Fotos roubadas à Carla e à RTP.

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