Das Cabinet des Dr Caligari
O que pode tornar fascinante um filme de terror feito nos idos anos 20 cuja filmagem não tem nada de especial?
No caso particular do Gabinete do Dr. Caligari e na minha opinião pessoal é apenas o facto do filme ser um dos expoentes do movimento expressionista alemão com o impacto visual que isso acarreta.
Uma corrente que manipulava a luz de uma forma inovadora, distorcia formas e usava a cor para traduzir estados de alma ao invés de usar representações realistas.
Os cenários são desconjuntadamente fabulosos, quase tão esquizofrénicos como alguns dos personagens. Sombras em forma de triângulos e espirais pintadas nas paredes, mobílias bicudas e desproporcionadas, superfícies deformadas e sinuosas, edifícios de esguelha meio pendurados, portas oblíquas, salas distorcidas com ângulos agudos nos cantos e tectos inclinados, dão a quem vê o filme uma sensação de desorientação e de estranheza, de “out of placement”.
O guarda-roupa, a maquilhagem e o desempenho dos actores também pertence ao mundo expressionista. Cesare, o sonâmbulo parece dançar na sua figura grotesca e o personagem Caligari é tão bizarro que quase se funde com o cenário.
O filme foi feito logo após a I grande guerra e a Alemanha debatia-se com problemas económicos. O orçamento era muito reduzido portanto foi necessário poupar. Poupou-se nos cenários e na iluminação. Os cenários foram todos feitos com papel pintado e alguma madeira. Como não havia dinheiro para a iluminação, o claro escuro de alguns sets foi concebido para substituir parte da iluminação.
Alguns críticos fazem uma interpretação sociopsicológica do filme como um metáfora do que se passava na Alemanha na época e um protesto contra as autoridades.O medo provocados pela instabilidade política e económica era evocado através de personagens sombrias. Os cenários representavam o estado da sociedade alemã da época. O sonâmbulo do filme representaria a Alemanha e Caligari seria as autoridades alemãs, que tinham incitado a população a cometer crimes – a guerra- por elas. O filme também é visto como uma premonição da subida ao poder de Hitler, um manipulador de mentes para fins malévolos, tal como Caligari. O que já me parece um pouco clarividente a mais.
A história é contada em flashback pela personagem Francis: O sinistro Dr. Caligari exibe Cesare, um perpétuo sonâmbulo com poderes divinatórios, numa barraca de feira. Este prediz que Alan, um amigo de Francis irá morrer no próprio dia. O que vem a acontecer. A morte de Alan é uma dentre uma série de bizarros assassinatos que ocorrem na cidade. Caligari e Cesare tornam-se suspeitos óbvios. Mais tarde descobre-se que são culpados. Caligari é perseguido por Francis até um hospital para doentes mentais. Onde fica a saber que Caligari é o médico chefe do hospital. Num surpreendente volte face final Francis é apresentado como um dos doentes loucos do hospital que narra esta história a outro doente e Caligari é afinal um homem são. Mas as cenas finais do filme deixam ainda a pairar no ar a questão: será Caligari menos louco que Francis?
Labels: Cinema
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