Exames Nacionais de Matemática do 9º Ano
Figura acima sorrateiramente roubada a Nuno Crato.
Depois de ter ouvido as notícias sobre os péssimos resultados nos exames nacionais de matemática do 9º ano e ter lido a prosaíca explicação para o descalabro dada por uma porta-voz da Associação dos professores de matemática (APM), decidi-me a resolver o exame em questão. O dito está online para quem estiver interessado.
As minhas conclusões são:
- O exame não continha erros e estava bem feito.
- O exame continha apenas matéria que faz parte dos programas.
- A maior parte do exame continha perguntas fáceis de resposta directa ou quase directa.
- Tendo em conta a faixa etária a que se destinava, na minha opinião o exame continha 2 perguntas com um grau de exigência maior que as restantes. A 5.2 (envolvia escrever e resolver um sistema de 2 equações a 2 incógnitas, interpretanto um enunciado) e a 11 (envolvia uma demonstração com volumes de esferas e de um cilindro).
Para esta associação de professores como para muitas outras das dezenas de associações de professores neste país existe sempre um bode expiatório. Ele é "o exame muito difícil" , o "programa muito extenso", os "alunos que agora não sabem nada", as "aulas que começam atrasadas". Quando a verdade é que a incapacidade dos alunos para fazerem exames é não terem aprendido nada de nada durante o ano lectivo porque os professores não foram capazes de os ensinar. Já é tempo dos professores assumirem as suas responsabilidades ou de alguém os fazer assumi-las. Uma boa parte dos professores do ensino público básico e secundário deste país são maus, muito maus.
O governo deveria ter coragem política para reformular a forma de contratação e o estatuto da carreira dos professores de forma a contratar e manter apenas os mais aptos. As associações de pais deveriam ter uma palavra a dizer sobre a qualidade do ensino que é ministrado aos seus filhos.
A Sra. Manuela Pires, Vice-Presidente e porta-voz da APM, diz que "o exame era muito difícil, com exigências dispensáveis". Dispensáveis, dispensáveis, são professores incompetentes digo eu. O estado devia processar esta Sra pelas afirmações que faz. São caluniosas.
Tenho curiosidade em saber que notas tiveram os alunos dela. Mas a escola onde ensina a Secundária Eng. Calazans Duarte não as tem online.
A massificação do ensino em Portugal correu da pior maneira possível. E neste caso nem a iliteracia científica explica o que se passa.
8 Comments:
Paro aqui para lhe agradecer os comentarios pertinentes que deixou no meu blogue. Nao conhecia o seu blogue mas vou passar a segui-lo com atencao. Vou encomendar o livro que referiu.
Muito obrigado
Obrigado pela visita.
Dificilmente encontrará alguma coisa sobre economia neste blog ... mas Espero que o resto seja útil!
Pois, se calhar devíamos ser todos mais humildes e perceber que não é necessário termos todos cursos e percebermos todos de matemática.
Penso qua é injusto afirmar qua a maioria dos professores são incompetentes porque os seus alunos não conseguiram passar num exame. É claro que a discrepância de resultados entre o exame e as classificações internas deixam qualquer um perplexo se este qualquer um não tiver conhecimento sobre o sistema de avaliação que vigora neste momento. A verdade é que um aluno que tenha ao longo do ano notas inferiores a 50% mas que, ainda assim, seja um aluno esforçado, trabalhador... etc, ou seja, dificilmente será reprovado pelo conselho de turma (e não pelo professor da disciplina). Os professores estão obrigados a contabilizar nas notas as competências transversais (autonomia, iniciativa, participação, empenho, interesse......) que os alunos revelam e/ou vão desenvolvendo ao longo do ano lectivo. Em muitos casos, e dependendo de escola para escola, estas competências podem ter um peso na nota final de 50 ou 40%; raros são os casos (ou mesmo nenhuns)em que o seu peso é inferior a 30%. Ora isto faz com que as notas finais pareçam inflacionadas. Contra isto temos muitos dos professores que são injustamente chamados de incompetentes e que têm de se submeter às directrizes do Ministério da Educação. Não nego que temos professores incompetentes. Temos, tal como temos profissionais incompetentes em todas as áreas. Penso tb que a competência de um professor não se mede com as notas que atribui. Se assim fosse, qual seria o melhor professor: o que reprova mais ou o que dá boas notas? Portanto, penso que seria bom que todos se esforçassem por compreender melhor o sistema de ensino que vigora hoje em dia e pudessem ter um visão mais globalizante da realidade antes de criticar.
Bad teacher
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Luis G. : De facto não é necessário termos todos cursos. Isso já é o que acontece, só uma pequena minoria chega ao ensino superior.
Também não é preciso sermos todos matemáticos mas há mínimos! Alunos que chegam à universidade, ingressando em cursos de engenharia ou de ciências e não sabem coisas tão básicas como dividir ou operar com fracções simples... Estes alunos ou foram mal aconselhados e frequentam cursos para os quais não têm aptidão natural alguma ou então até têm aptidão e interesse mas foram mal ensinados. Não falava aqui em sermos todos génios da matemática. Fazer contas com percentagens ou interpretar um simples gráfico de barras é uma coisa básica que toda a população tem de saber fazer. Mais que não seja para ir às compras sem ser enganado ou ler infografias no jornal.
Todos os dias esbarro com alunos da universidade cheios de interesse em várias áreas científicas mas que não conseguem fazer cálculos triviais. Porquê?
Caro Bad Teacher anónimo:
Todos nos tivémos excelentes professores e outros maus. Eu lembro-me bem dos muito bons. Recuo tão para trás que me lembro de no ciclo preparatório ter tido uma professora chamada Maria Manuela Matos que era excelente. Se me perguntar o nome dos maus professores que tive não consigo citar nenhum. Isto porquê? Porque um bom professor marca. E marca para toda a vida. O bom professor é muitas vezes responsável por opções importantes que fazemos mais tarde em termos de ensino ou carreira. O bom professor ensinou-nos qualquer coisa. É por isso que nos lembramos dele. Este bom professor obedece e segue as regras do Ministério da mesma forma que um mau professor o faz, sejam as regras boas ou más. A diferença entre os dois é que o BOM consegue ensinar e cativar os alunos, o MAU não. A qualidade de um professor não se mede por dar muitas notas positivas ou muitas negativas como você refere. Mede-se pela capacidade que o professor tem de ensinar os alunos. A professora que referi acima tal como outros professores que tive conseguiu ensinar-me apesar das "perversas" directivas do ministério que certamente existiam na época...
Quando fala em avaliar competências está a dar-me razão:
Autonomia: Um aluno que não consegue resolver um problema de matemática simples SEM AJUDA não pode ser avaliado com positiva a autonomia. (no caso do exame nacional uma série de perguntas ficaram intocadas). Iniciativa : um aluno com iniciativa pega sempre num problema mesmo que a principio não saiba como o resolver.. Este aluno sabe que é quase sempre possível conseguir alguns pontos mesmo com raciocínios coxos e contas erradas.Idem aspas para "empenho" e "interesse". Não terão estes alunos sido mal avaliados nas "competências"?
É altura de os professores como classe admitirem que a melhoria da qualidade dos docentes traria uma melhoria da qualidade do ensino. È isso que defendo e é isso que não é feito pelas organizações de professores. É altura de pararem de se queixar dos outros ( "o ministério" e o "sistema de avaliação") e resolverem para já o que está ao vosso alcance. Se na escola onde você ensina fossem substituidos os professores incompetentes por bons professores, havia ou não uma melhoria?
Concordo que o corpo docente tem vindo a piorar de ano para ano. Não entendo é como estes chegam às escolas saídos de um curso universitário que, pelo que parece, também não teve coragem para pôr os pontos nos iis.
Abraço
Bad Teacher Fernando Pires
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