5.28.2007

Triologia Qatsi



Adquiri recentemente a triologia qatsi do realizador Godfrey Reggio. Trata-se de 3 filmes do mesmo tipo cuja temática se centra nos efeitos perniciosos do progresso e do desenvolvimento tecnológico (e se quisermos acrescentar .... da globalização). Não têm actores nem enredo e também não pretendem ser documentários pois não há narração nem sequência lógica óbvia na forma como as imagens do filme são mostradas. Trata-se de 3 objectos puramente estéticos construídos em torno de uma ideia - a de que o progresso tem efeitos negativos na civilização. Dito isto a maior parte das pessoas pode logo fugir a sete pés porque se trata de 3 filmes de culto bastante estranhos que se limitam a mostrar-nos 90 minutos de imagens musicadas pelo Philip Glass esse maldito minimal repetitivo!).
A verdade é que os filmes têm os seus momentos lamechas (como rostos de criancinhas sujas em slow-motion e aves sobre um pôr-do-sol) e os seus momentos a armar ao pingarelho (a começar pelos títulos que são palavras em dialecto Hopi). Se descontarmos tudo isso temos 3 bons filmes que do ponto de vista técnico são soberbos.

No primeiro filme Koyaanisqatsi (1982) (life out of balance) o recurso a imagens aceleradas e em slow-motion em conjunto com uma montagem fabulosa produz um efeito sensorial que me agradou bastante. Este filme foi inteiramente filmado nos EUA, embora muitas das imagens nos remetam para outras paragens. O filme aborda o tema das alterações feitas pelos humanos na natureza e do frenesim que se tornou a nossa vida como escravos da grande cidade. Neste filme a música do Philip Glass não é grande coisa lembrando fortemente o inaudível "Einstein on the Beach". O filme demorou 6 anos a ser terminado.

No segundo filme Powaqqatsi (1988) (life in transformation) explora-se o abismo entre o mundo civilizado e tecnológico e as sociedades 3º mundistas. Enquanto no Nepal e na Ìndia, hordas de pessoas no limiar da pobreza executam trabalhos braçais indignos da condição humana, mas mostram uma dignidade enorme, em Hong Kong, hordas de engravatados deprimidos têm tudo o que o consumismo pode fornecer. Visualmente não tão gratificante como o primeiro filme, este filme tem como ponto forte o que as imagens mostram e não a qualidade fotográfica ou da montagem. Mostra-nos a vida real em lugares reais com pessoas reais. Filmado em lugares geograficamente diversos mas que cobrem a totalidade do globo (Brasil, Índia, Nepal, Egipto, Peru, China, Kenia, Alemanha, França) mostra-nos estilos de vida muito diferentes do primeiro filme, centrados na terra, em locais sem luz nem água onde a mais pequena tarefa exige esforços sobrehumanos. Abre com imagens filmadas nas minas brasileiras da serra pelada, semelhantes às fotografias de "trabalhadores" de S. Salgado. Curiosamente, estas imagens do filme e as fotos de Salgado são contemporâneas e eu não consegui descobrir se um dos trabalhos se inspirou no outro ou não! Mais para a frente, há imagens de prédios em Hong-Kong que são muito semelhantes às fotos de Michael Wolf de arquitectura de densidade, mas neste caso o filme antecipou-se claramente ao fotógrafo pois as fotos de Wolf foram tiradas muito depois. Glass parece ter compreendido melhor este filme; a banda sonora é muito melhor que a do anterior.
Quanto ao Terceiro filme Nagoyqatsi (2002) (life as war) ainda não o vi, mas palpita-me que vai ser na próxima semana.

Produtores dos filmes: Coppola, Lucas e Soderbergh.

O ideal para ver estes filmes é ter a mente aberta, não estar à espera de uma coisa convencional e deixar-se levar... Cada um é livre de interpretar e sentir as imagens e a música como bem entender. O como diziam os posters de um dos filmes:

"Until now, you've never really seen the world you live in."

Página oficial dos filmes onde se pode ouvir trechos da música.

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1 Comments:

Blogger FrankCastle said...

Acabei de assisti "Nagoyqatsi" de 2002 na Netflix. Estava a procura de um filme diferente e na Netflix há a vantagem que as locadoras traziam: de ver uma "prateleira" e poder ver vários filmes que nunca correríamos atrás. Vi esse e me chamou atenção, a sinopse era muito breve, mas mesmo assim resolvi assistir.

O filme é, no mínimo, interessante. Confesso que esse é um tipo de filme para se assistir bem de vez em quando, mas não me arrependi, a trilha sonora ajuda muito e um trecho dela, perto de 1 hora do filme, me agradou muito!

Valeu pelo post, ajudou a esclarecer que o filme fazia parte de uma trilogia. Um abraço!

8:34 pm  

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