9.07.2007

Cadaver Dogs

Notícias em vários jornais portugueses e ingleses, referem que cães treinados para detectar cadáveres quando colocados no quarto de Madeleine McCann detectaram vestígios da presença de um cadáver.

Estas notícias são tanto mais estranhas quanto pouco exactas. Senão vejamos:
O cadáver da criança, na hipótese de esta estar morta e de ter estado no apartamento, não terá lá permanecido mais que umas horas, ora este tipo de cães é treinado para detectar compostos químicos presentes em cadáveres em decomposição:
- Tipicamente Putresceína, cadaverina e vários VOCs (Volatile organic Compounds) que são gases tipicos emanados em zonas com campas como o dióxido de enxofre, o metano, o benzeno e derivados e hidrocarbonetos de cadeia mais longa.
Estes cães são extremamente eficientes na detecção destes compostos. Mas este tipo de compostos não aparece em mortos com uma horita. É por isso que os "cadaver dogs" são sobretudo usados para descobrir cadáveres que foram enterrados ou ocultados num local, ou que estão numa vasta área de terreno.

Um interessante paper publicado no Journal of Forensic Sciences (uma das revistas que interessa para esta temática) fala sobre os compostos mais comuns encontrados em cadáveres. Noutro artigo da Forensic Science International, é feita uma análise cromatográfica a 2 cadáveres gregos com 4-5 semanas, encontrando-se cerca de 80 compostos voláteis. O artigo conclui que os corpos apresentavam sinais de envenenamento.

Mas um corpo com apenas horas e sob condições de temperatura baixa (em Maio as temperaturas não foram altas no Algarve) dificilmente apresenta estes odores. Sobretudo a sua detecção numa casa depois de terem estado umas dezenas de pessoas a entrar e sair de lá, com alguns policias a usarem outros produtos químicos para detectar outro tipo de pistas e passados alguns dias (os ditos cães não foram usados no próprio dia).

Parece que os jornais é que estão em processo de putrefacção...

2 Comments:

Blogger Babs said...

Primeira observação sensata que leio a respeito do caso. Virou novela...

1:20 am  
Blogger A. R. Ray said...

O post é sobretudo sobre ciência de detecção de cadáveres (usando cães treinados). No entanto o caso McCann é interessante de vários pontos de vista. Desde logo para sociólogos e psicólogos.
Para mim é interessante como mistério policial - avança-se agora a possibilidade de os pais terem morto a criança (acidentalmente ou não) e terem escondido o corpo- ou seja o corpo pode ter estado oculto no próprio apartamento enquanto toda e gente virava as atenções para buscas fora da casa- tendo-se mais tarde desfeito do corpo: Isto seria melhor que enredos da Agatha Christie.
O uso dos cadaver dogs afinal não foi na altura mas há volta de um mês depois do desaparecimento. Do seu uso concluiu-se que a mãe teve contacto com um cadáver (não significa que seja o de Maddie). As análises a traços de DNA e sangue mesmo que estejam isentas de erros neste caso não ajudam. Estes indícios podem ter vindo de roupa ou artigos pessoais da menina.Mas fora a desinformação dos media nada sabemos sobre os resultados cientificos vindos do laboratório.
A melhor forma de confirmar esta tese era fazer AGORA uma batida com cães na região e ainda algo que deviam ter feito há muito, uma busca na costa próxima usando mergulhadores.
Este caso sem se descobrir o cadáver nunca se resolverá....

5:16 pm  

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