7.27.2005

Local Trends

Depois de ler este post no OCeuSobreLisboa lembrei-me de um poeirento volume que há tempos atirei para cima de uma das estantes do gabinete. Era mais uma daquelas coisas que a comunidade europeia me envia com frequência sem eu saber porquê. Continha estatisticas que não me interessavam nada - Housing Statistics in EU 2003.

Sacudida a poeira, revelou-se uma leitura interessante. Particularmente interessante é a figura abaixo, que vinha acompanhada de uma tabela com os dados:


house age

Olhando para ela fiquei a saber que em Portugal quase 50% da população vive em casas/apartamentos novos ou quase novos. Metade das habitações portuguesas são de construção pós-1980. Mais ainda, de acordo com os dados anexos à figura a maior parte foi construida após 1995. E só 6% das habitações portuguesas data de antes de 1919, contra 20% em França e 15% na Alemanha. Considerando que estes 2 países tiveram uma boa parte das suas cidades destruídas durante as 2 grandes guerras e que Portugal não, é obra!

Folheio o resto do documento à procura de uma explicação:
GDP português- dos mais baixos da UE. Portanto não compramos casas novas porque somos ricos.
Crescimento populacional e população jovem em idade de comprar casa- Não difere muito dos restantes países. Só a Irlanda tem uma % de jovens elevadíssima.
Imigração- Não é relevante.
Condições de habitabilidade do parque imobiliário- iguais às dos outros países. Portanto também não compramos casas porque a anterior estava a cair aos bocados ou não tinha WC.
Nº de pessoas a viver em cada casa- Nada que se compare aos paises nórdicos onde as pessoas vivem sózinhas. Donde também não é por querermos sair da casa da familia que compramos casa.
Número de casas disponíveis/1000 Habitantes- acima da média europeia. Também não é porque termos escassez de casas....

Finalmente surgem alguns dados que fazem luz sobre a minha dúvida:

housing stats

Casas Vazias em Portugal 10,8% do total de casas em Portugal.
Formulo também a hipótese de as casas em Portugal serem uma forma de investimento barato. Hipótese que não consigo provar: As estatisticas referentes ao "price index" omitem os resultados para Portugal. Assim fico sem saber se em média e ponderando o custo de vida sai mais caro ou mais barato aos portugueses comprar uma casa que aos nossos vizinhos europeus. Acabo por encontrar uma tabela com uma medida de endividamento: Mortgage debt/GDP . Quanto maior fôr este valor mais peso terá a divida contraída para comprar casa no orçamento doméstico. O valor 50 mostra que em Portugal custa mais a pagar uma casa que na generalidade dos países da UE. E que essa dificuldade aumentou de 1996 para 2002 (valor 28 na coluna central que mostra a variação
Mortgage debt/GDP nesse periodo).

housing stats
Noutra tabela fico a saber que o período dos empréstimos é em média de 15-25 anos para a generalidade dos países europeus, mas que em Portugal é de 25-30 anos. Lá se vai a minha hipótese: Em Portugal a habitação não é um investimento barato!


Concluo que pura e simplesmente o Português gosta de comprar casas não porque necessite nem porque tenha dinheiro a mais mas porque o deseja! E parece ser um desejo muito forte....

3 Comments:

Blogger Unknown said...

Esse tipo de "explicação" de que as coisas são como são porque "o português gosta" (ou "o chinês", o "paraguaio", seja o que for) é um lugar-comum inconsequente, uma espécie de tautologia que é infelizmente vulgar entre os portugueses mais instruídos. É equivalente a dizer uma coisa do género "os tigres são carnívoros porque gostam de carne". Há muitas hipóteses com potencial valor heurístico, como o congelamento das rendas, a liberalização do crédito após 1985, a fase de baixas taxas de juro que atravessamos, e a emigração, sim. As pessoas que emigraram na grande vaga dos anos 60 estão a atingir a idade da reforma; para elas, adquirir uma casa pode ter um valor importante, mesmo que economicamente irracional, como corolário simbólico desse trajecto; e as taxas de juro estão em níveis historicamente baixos, seguindo-se a décadas de restrições ao crédito. Além disso, devido a uma série de factores, os preços das casas têm subido a um ritmo muito superior ao da inflação, o que faz com que muita gente encare a compra de casa como um investimento rentável e seguro.
Por outro lado, os seres humanos têm, entre outras, uma coisa que os diferencia dos restantes animais: podem mudar de gostos rapidamente. Os tubarões são carnívoros há milhares de anos. Os "portugueses" são muito mais carnívoros do que eram há 40 anos, e também compram muito mais casas (e carros, etc.) do que há 40 anos. E não são menos portugueses por causa disso. Na geração dos meus pais era raro quem vivesse em casa própria, mesmo nas classes médias; agora é o inverso. Atribuir esse fenómeno a uma causa do tipo "gostar de" equivale a desistir de explicar. Eu próprio vivo numa casa que comprei com recurso a crédito; mas não o faria certamente se as rendas fossem mais baixas e as taxas de juro mais altas.

5:43 pm  
Blogger Unknown said...

A tua última afirmação, de que a habitação não é um investimento barato, com base no facto de o período de empréstimo ser mais elevado, não faz sentido para aqui. É verdade que quanto maior é esse período, mais caro sai o investimento. Mas, para o consumidor, o dado mais relevante é o valor da prestação mensal, e esse varia na razão inversa da duração do empréstimo. Ou seja, comprar casa é mais acessível em Portugal que em muitos outros países, e isso deve explicar boa parte do "gosto" dos portugueses em comprar casa.
A tua interpretação dos valores do rácio endividamento/PIB é também bastante duvidosa, já que este rácio não tem nada a ver com o custo do crédito, mas é simplesmente uma medida do endividamento. Quanto mais o crédito for acessível, mais baixas as taxas de juro, e maior o prazo de amortização, mais fácil será o endividamento, não?
Também gostava de saber como é que explicas o facto de a % de casas vazias na Irlanda ser quase igual à de Portugal, e as de Itália, Espanha e Grécia serem superiores: é o "carácter latino" ou "celto-latino"?

6:10 pm  
Anonymous Maruhi singh said...


Your last statement, that housing is not a cheap investment, based on the fact that the loan period is higher, does not make sense here. It is true that the longer this period, the more expensive the investment comes out. But for the consumer, the most relevant data is the value of the monthly installment, and this varies in the inverse ratio of the duration of the loan. That is, buying a home is more affordable in Portugal than in many other countries, and this should explain much of the "taste" of the Portuguese in buying a home.
Your interpretation of the debt-to-GDP ratios is also quite dubious, since this ratio has nothing to do with the cost of credit, but is simply a measure of indebtedness. The more credit is accessible, the lower the interest rates, and the longer the repayment term, the easier the debt will be, right?
I would also like to know how you explain the fact that the% of empty houses in Ireland is almost equal to that of Portugal, and those of Italy, Spain and Greece are superior...

9:07 am  

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