Lost in Translation
O semanário Expresso online mima-me com o seguinte texto no corpo de uma notícia sobre os bombistas londrinos: "a pista de um universitário egípcio, mestre de conferências em química, na Universidade de Leeds..." (sic). Tradução manhosa.... mas enfim as publicações online tem a vantagem de nem para forrar o caixote do lixo servirem ( para os mais novos explico que em tempos idos quando o saco de plástico não era um artigo doméstico comum o caixote do lixo era forrado com folhas de jornal. Exigia uma certa mestria).
E como uma desgraça nunca vem só, passando os olhos por uma publicação impressa que aqui tenho salta um inevitável "eventualmente" num contexto que tresanda a "eventually". Nos dias que correm nada escapa a estes tradutores de pacotilha. Sem falar dos rótulos no supermercado ou dos manuais que vêm a acompanhar equipamento informático escritos num poético brasileiguês ou num ibérico portunhol, noto que mesmo tradutores profissionais e livros com revisão têm as suas nódoazitas lá pelo meio. Há tempos ao ler uma tradução de um livro do Simon Singh ("O Livro dos Códigos") num trecho em que se falava de estratégia militar e movimento de tropas encontro "manobras de diversão" como tradução de "divert troops". Fiquei de olhos em bico!
Verifico que qualquer lombada que escancare traz impressa a ignorância dos tradutores em relação às chamadas false friends (cognatos) e à sua própria língua. Lá está um actualmente por um actually; um antecipar por um antecipate; um alemão por um dutch; massivo por massive; noticiar por notice; Ponto zero por ground zero; o hilariante antena por anthem; Data passa a data; Hazard é um azar; Exquisite é esquisito; Parents são parentes... E desde que passámos a ter pescado em vez de peixe nem me apetece falar do francês nem do espanhol.
Um dia acordei para ter um pesadelo: A caminho do trabalho esperava-me um outdoor que anunciava em grandes parangonas um carro com a frase: "PENSAR À FRENTE". À frente de quê? ou de quem? porque não pensar acima ou ao lado? "To Think Ahead"...
Nada disto chega aos calcanhares de um livro que um amigo meu comprou há uns 10 anos atrás. Era uma tradução "brasileira" de um livro sobre uma linguagem de programação (não me lembro qual). Toda a tradução era horrível e feita por alguém que não tinha conhecimentos técnicos.
O tradutor aprimorou-se: Nos exemplos e exercícios de programação ....traduziu a linguagem de programação!
GoTo era ir para; do era fazer; If passou a Se; e o nome das funções matemáticas também estava em português.
Resta-me o consolo de saber que esta interpenetração de línguas significa que daqui a umas décadas estaremos todos a falar uma espécie de esperanto. Imaginem o dinheiro que a UE vai poupar em tradutores e papel!
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