10.04.2005

Portugal desenvolve-se?




O grande público lê/vê frequentemente infografia com informação apresentada sob a forma de indicadores (por exemplo os indicadores estruturais do Eurostat permitem medir o desenvolvimento de países) mas poucos sabem realmente o que é um indicador e que limitações tem. Um indicador é um parâmetro cujo valor tem um significado que vai para além do mero valor numérico. É construído condensando grandes volumes de dados e com base em 3 grandes regras:

- Mensurável – Os dados usados para calcular o indicador estão disponíveis, são medidos de acordo com critérios científicos válidos internacionalmente e são medidos periodicamente. Se não se podem obter os dados ou se os dados não têm qualidade, o indicador é inútil.
- Analiticamente sólido – Baseia-se em princípios técnicos e científicos reconhecidos internacionalmente.
- Relevante para o utilizador (frequentemente um decisor politico) - Os indicadores só têm interesse se poderem ser utilizados para dar informação sobre uma dada situação ou para fazer comparações geográficas ou temporais. Se forem irrelevantes são inúteis!

Dito isto para que serve um indicador?
Principalmente para medir performances e evoluções, ajudar a escolher prioridades politicas/legislativas e comparar regiões/países. E atenção, um índice não é a mesma coisa que um indicador. Um índice agrega informação de vários indicadores, directamente ou usando pesos.
Os indicadores são uma boa ferramenta , mas têm defeitos. Pelo facto de agregarem volumes de dados consideráveis, perdem detalhe porque generalizam muito e podem por vezes conter erros sobretudo se houver lacunas de dados.


Na semana passada li um artigo que posso considerar no mínimo hilariante no jornal Público (29 Setembro). Era um artigo sobre competitividade mundial. Nele comparava-se a competitividade de vários países com base em índices. A base para o artigo era o relatório anual do FEM (Forum Económico Mundial) sobre competitividade global.
Portugal surgia classificado em 22º lugar, à frente da Espanha, França, Bélgica e Irlanda. Claro que este resultado não faz sentido. E os jornalistas que escreveram a peça não tiveram espírito critico para o contestar. Não faz sentido porque parte dos indicadores que foram usados para calcular o índice são desadequados ou foi-lhes dado um peso que não é realista. Um dos indicadores usados era “número de utilizadores de telemóveis por cada 100 habitantes” outro era “influência da ameaça de terrorismo no clima económico” e por aí fora. É verdade que o nosso país tem muitos utilizadores de telemóvel. Mas isso não significa nada em termos económicos. Os telemóveis em Portugal são usados sobretudo por razões pessoais e não profissionais. E não fabricamos nenhum componente de telemóveis, nem temos nenhum papel relevante no desenvolvimento de redes de telecomunicações. Quanto à ameaça de terrorismo …estamos completamente despreocupados. Porque uma bomba no nosso país é mais irrelevante que um iraquiano com o cabelo pintado de rosa choque. Concluindo, este índice de competitividade vale o que vale e a sua interpretação generalista sem ter em conta a especificidade regional não produz bons resultados!

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