Sempre actual, Sempre crítico

Kurt Vonnegut um dos mestres da escrita norte-americana lança mais um livro: "Man without a country". Vonnegut é como o vinho, quanto mais velho melhor. Não só não perdeu faculdades mentais como a sua linha de pensamento muito própria continua a funcionar como um relógio. Veja-se um excerto da entrevista que deu à Forbes.

A sua escrita descreve um mundo cheio de irracionalidade caótica em que se misturam acasos com laivos de ficção científica. Não é um mundo ficcionado, é apenas o nosso mundo visto pelos olhos de Vonnegut. Uns olhos que sobreviveram ao suicídio da mãe e ao borbardeamento da cidade de Dresden durante a 2ª guerra mundial, onde teve de servir como coveiro depois do bombardeamento. Sobreviveram a um incêndio em casa, com a consequência de 4 dias de hospitalização em estado crítico. E contra todas as probabilidades à morte da irmã de cancro e do cunhado num acidente com apenas horas de diferença. Claro que o seu mundo não pode deixar de ser pessimista...

Vonnegut continua popular e activo como intelectual contra o sistema apesar dos seus 83 anos. Ainda aparece com muita frequência em influentes programas de televisão e em eventos públicos nos EUA. Não se coibindo de opinar sobre a actualidade política mundial. No novo livro, uma colecção de ensaios, nem uma linha poupa a actual administração norte-americana

As ilustrações que aparecem nos seus livros são do próprio. Como a que encabeça o post, que aparece no livro "pequeno almoço de campeões".

Einstein Everywhere

Em 2005 comemora-se o ano internacional da física aproveitando o centenário da publicação dos 3 artigos científicos de Einstein que mudaram para sempre a física. Em Portugal pouco se tem dado por isso mas noutras bandas há coisas a acontecer:

Em Nova Iorque foram largados 100 Einsteins pela cidade fora, cortesia da revista SEED (uma revista de divulgação científica de grande qualidade que também existe online). A função destes Einsteins é explicar aos transeuntes de forma simples a teoria da relatividade.
No ciberespaço podemos divertir-nos personalizando um Einstein ( eis o meu ali em cima).
E alguns não perderam tempo a produzir merchandising variado alusivo.
Para quem procura informação, o site Einstein Year tem muito para dar.

Nouveau Riche

As leis de Murphy dizem-nos que sempre que desejamos arrumar o carro na garagem ao final da tarde, há-de lá estar qualquer coisa parada à porta. Ontem calhou o qualquer coisa ser o reluzente Mercedes convertível SLK da vizinha 3 portas abaixo. Que estava na coscuvilhice com a vizinha de 2 portas acima.

Prestável apressou-se a tirar o brioso do caminho. Vestia fato de treino cinza mosca estilo "feira do Relógio" - para quem não sabe o que é trata-se basicamente de roupa hiper-rasca comerciada por ciganada (sem ofensa a estes últimos!). E no braço chocalhavam um ror de pulseiras com cheiro a quilates. Cumprimentou-me com um sorriso rasgado mostrando uma plateia de dentes podres. Em cima e em baixo todos negros como o carvão!


Não sei se fiquei alegre ou triste.
Provavelmente nunca hei-de ter um Mercedes SLK. Mas também nunca hei-de ter dentes podres...

Sudoku

O Sudoku é a nova febre dos puzzles. Depois de fazer uns 5 ou 6 permaneço mais ou menos imune à febre. Reconheço que é tão agradável como fazer palavras cruzadas, diferenças ou sopas de letras, mas não passa disso. Não me atraí muito porque a lógica de resolução é sempre a mesma e a maior parte dos que aparecem pelos jornais são tão fáceis que nem é preciso fazer suposições. Resumindo - Boring!

Mais interessante é expremer este jogo: Um Sudoku com uma quadricula de 9X9 tem 6,670,903,752,021,072,936,960 possibilidades de colocar números de forma correcta. Este e outros cálculos relacionados com puzzles Sudoku podem ser feitos usando umas rotinas desenvolvidas por B. Felgenhauer (É preciso saber C e matemática avançada).
Deixo-vos uma pergunta: quantos números precisamos que estejam inicialmente na grelha de um Sudoku 9X9 para termos a certeza de obter uma solução única?

Biodiversidade

Biodiversidade, um termo que aglutina as duas palavras da expressão diversidade biológica é sistematicamente incompreendido.
Quando se fala em biodiversidade, a maior parte das pessoas apenas pensa que a sua importância não sai da esfera do politicamente correcto ou da ética. A perda de biodiversidade é para o comum dos mortais condenável apenas porque estamos a matar animais e a destruir os seus habitats. A importância real da biodiversidade é desconhecida para a maioria das pessoas.

Na altura da implosão das torres de Tróia perguntava-me um amigo qual era afinal a importância de meia dúzia de morcegos e porque é que era importante gastar montes de dinheiro a construir um morcegário e a estudá-los. Foi com grande dificuldade que consegui convencê-lo da importância da pequena comunidade de morcegos num contexto global.

A perda de biodiversidade tem várias consequências muito graves. As mais vísiveis são a não manutenção do equilíbrio ecológico e da estabilidade de habitats. O equilíbrio ecológico é fundamental para um ecossistema. Quando uma espécie desaparece ou vê reduzido drasticamente o número dos seus elementos geram-se desequilíbrios. Por exemplo se fizermos desaparecer as comunidades de sapos existentes numa zona húmida, irá dar-se uma proliferação anormal de insectos que pode ser muito prejudicial para os agricultores da zona. Ao extinguirmos os sapos, os insectos deixam de ter predadores e o seu número aumenta. Os desequilíbrios não naturais introduzidos em ecossistemas provocam normalmente o aparecimento de espécies dominantes, na maior parte das vezes com consequências funestas para o próprio ecossistema, por se tratar de mudanças bruscas e drásticas.

A estabilidade dos habitats é outro factor muito importante. Por exemplo a desmatação de áreas vastas de bosque ou floresta pode originar aluimentos de terras ou problemas de fixação de solos. Cada espécie tem funções bem definidas no habitat, as contribuições vão desde a purificação do ar e da água até defesas contra inundações, secas e outros desastres naturais.

Mas a perda de biodiversidade tem outras duas consequências bastante mais graves que as anteriores: A escassez/eliminação de recursos e a perda de diversidade genética.
A escassez de recursos é a consequência da perda de biodiversidade mais gravosa a nível económico. Ocorre quando a actividade humana esgota ou reduz de forma radical uma ou várias espécies. Por exemplo quando há pesca intensiva sem reposição do stock de peixes ou quando se abatem árvores a um ritmo superior que o de seu crescimento. Se se chega a uma situação de esgotamento, as empresas que antes beneficiavam destes recursos deixam de o poder fazer.

A perda de diversidade genética é talvez a consequência mais importante. Por um lado é fazendo uso desta diversidade que se dá a Evolução (com maiúsculas, Evolução no sentido Darwiniano). Para evoluírem as espécies usam a "pool de genes" disponível. Se existir menos diversidade genética as possibilidades evolutivas estarão também mais limitadas. É como tentar construir uma casa de Lego: Se só tivermos peças de Lego de um tamanho e côr o resultado final é sempre mais pobre que se tivermos um vasto catálogo de peças diferentes à nossa disposição. Por outro lado é a diversidade genética que permite uma grande parte dos avanços em investigação clínica a nível mundial e que actua como barreira contra a maior parte dos microrganismos e bactérias. Assim, reduzir a biodiversidade genética deve ser visto como hipotecar o futuro da vida no planeta.

Engenhos de Criação

Eric Drexler é um cientista doutorado no MIT que foi pioneiro na investigação em nanotecnologia. Em 1986 publicou "Engines of Creation", um livro visionário que antecipava a expansão e aplicações possíveis para a nanotecnologia. Drexler acertou em quase tudo!
Aquilo que na época parecia um livro de ficção científica tornou-se real no Séc. XXI. A obra é considerada como um dos mais influentes livros sobre tecnologia do séc.XX.

O livro, escrito numa linguagem acessível ao grande público, contém uma boa dose de ciência séria e inclui alguns capítulos com um enfase mais filosófico e hipotético. É o caso dos capítulos finais em que se disserta sobre as potenciais implicações éticas das nanociências, futuras aplicações na área da defesa e drásticas situações limite em que esta tecnologia escaparia ao controle humano. Apesar de algumas partes do livro já estarem desactualizadas, este continua a ser uma obra de referência introdutória às nanociências.
Em 1991, Drexler escreveu um livro muito mais técnico com base na sua tese de doutoramento - "Nanosystems: molecular machinery, manufacture and computation", não aconselhável para o grande público.

Durante algum tempo "Engines of Creation" circulou pela internet e nos populares programas peer-to-peer, mas agora já está abertamente disponível para download no site do Foresight Nanotech Institute. Existe ainda uma versão para palm disponível no mesmo site.

A Dose Diária de Cartoons

O Daily Grind Iron Man Challenge é uma competição de cartonistas que obriga cada autor a produzir e colocar online 1 cartoon por dia. Já dura há muitos meses e vários autores já desistiram, mas 34 ainda se mantêm na corrida. Todos eles têm sites com um design irrepreensível e colocam online desenhos excelentes.

Os meus favoritos são:

• Todd and the Penguin
• Tasty Human Meat
• Philintheblanks
• Housd
• Abrandonedkids
• Ted Scrawl

Clonagem de Abortos

Se vem à procura de um post sobre genética e medicina desengane-se. Isto é sobre Margarida Rebelo Pinto (MRP), uma produtora de abortos em série que, por acaso ou não, são clones uns dos outros.

Nunca me interessaram mesmo nada as "obras" desta Sra. Sem preconceitos já folheei várias vezes livros desta autora em livrarias e achei mauzitos, por isso não comprei. E quando os meus amigos troçavam da literatura light cá do burgo sempre defendi este tipo de literatura de hipermercado porque achava que tem o grande mérito de pôr os portugueses a ler. Antes não liam, agora lêem livros maus. Eu achava isto um progresso. Mudei radicalmente de posição esta semana. Deixei de achar que isto possa ser um mérito.

Foi depois de ler uma série de posts do João Pedro George (JPG) no Esplanar. O JPG deu-se ao trabalho de ler todos os livros da MRP (5 romances e 3 colectâneas) e numa série de excelentes posts (a começar neste) disseca a obra.
A triste conclusão é que estes livros são mais que maus, eles são mesmo deploráveis para além do imaginável. JPG conclui que além de escrever mal, MRP escreve basicamente sempre o mesmo livro (os mesmo estereotipos, as mesmas situações, os mesmos cenários) e além disso ainda nos brinda com uma enorme desonestidade - MRP copia frases, trechos e até páginas inteiras de uns livros para os outros. Um caso sério de autoplágio!

Particularmente hilariantes são 2 posts (I, II) que agrupam excertos de expressões pitorescas que surgem nos livros de MRP. A maior parte destas expressões está para além da compreensão humana. Exemplos como: “sorriso iluminado a azul”, “raparigas confusas e desarticuladas com menos neurónios do que um goraz acabado de pescar” , "atira-se para o outro lado da cama qual porco depois de correr a mini maratona", “o Pedro era uma couve”, “calotes sentimentais” , "mesada afectiva", "cara de coelho estúpido" aguardam-nos ao virar de cada página. Este Natal já sabe o que oferecer aos seus inimigos.

Cultura Portuguesa Concerteza

A entrada na Wikipedia para a palavra Desenrascanço e as explicações exóticas da sua origem no séc.XVII. Logo seguida da entrada na mesma enciclopédia online para a palavra Tanga. Alguém se anda a divertir à grande a escrever entradas castiças mas com um ar profissional na Wikipedia.

Gripe das Aves

A gripe das aves é um tipo de gripe que em princípio só afecta aves. No entanto, desde 1997 registaram-se casos em humanos. A doença é extremamente contagiosa entre a população de aves. A infecção é feita sobretudo através das fezes das aves, mas segundo os peritos as secreções nasais e a saliva também podem disseminar a doença.

O virus da gripe A tem diferentes variantes que se caracterizam por terem determinado tipo de proteínas na superfície do virus. Existem 16 variantes HA (hemaglutinina) e 9 variantes NA (neuraminidase) e ainda várias variantes que combinam proteínas HA e NA.
Todas as variantes do vírus da gripe A têm sido encontradas em aves. Nos humanos apenas ocorrem as variantes H1N1, H1N2 e H3N2 do vírus da gripe. Pelo menos assim era até recentemente. Mas o vírus da gripe é muito adaptável e sofre mutações frequentes, podendo vir a desenvolver novas variantes capazes de infectar humanos sem que se consigam desenvolver vacinas e tratamentos a tempo. Parece ser o que está a começar a acontecer.

A variante que está a revelar-se muito mortífera para as aves, a H5N1, contaminou alguns humanos na Ásia e dizimou milhares de aves nos últimos anos. O risco de transmissão a humanos é considerado muito baixo e sempre que houve transmissão a humanos estes não contaminaram outras pessoas, segundo a OMS. Mas as causas de alarmismo das autoridades mundiais são justificadas: O vírus é extremamente mortífero e não há vacina, o que significa que se o vírus conseguir desenvolver variantes que contaminem humanos e se espalhem facilmente, milhões de pessoas morrerão.

Os países do primeiro mundo estão a fazer stocks dos poucos medicamentos actualmente existentes que se sabe conseguirem aliviar os sintomas- com os princípios activos oseltamavir e zanamavir. O Tamiflu da Roche é um deles, mas o Tamiflu não mata nada apenas dificulta a replicação viral. O desenvolvimento de vacinas poderá demorar mais tempo que a pandemia!

Para já sabe-se que nas aves, o vírus já se espalhou da Ásia para as portas da Europa, tendo chegado à Rússia, à Turquia, à Romania, à Bulgária e à Grécia. 2 Notícias recentes (I, II) davam conta de grupos de investigadores que diziam ter desenvolvido vacinas eficazes para humanos, no que parece ser apenas uma corrida para ganhar 5 minutos de atenção dos media, já que os medicamentos deste tipo precisam de testes clínicos longos e em situações de exposição à doença reais para se comprovar a sua verdadeira eficácia.

Hoje Não me Apetece Escrever Nada

O meu carro ficou sem bateria, ou sem alternador, ou com um mau contacto, ou o raio-que-o-parta.

Tenho as mãos sujas!

Lá se foi a manhã!

O Bom e o Óptimo

NOT GOD

Patentes Estúpidas

Neste blog as patentes mais absurdas do mundo.

O sabonete com música e luz, O crucifixo iluminado a energia solar, O telemóvel de pulso, O telemóvel com pistola incluída, A tentativa de patentear um gene, O aplicador de protector solar para costas (figura abaixo), As fezes humanas artificiais, O massageador para a próstata, As calças com um fecho éclair no rabo, O método para melhorar o funcionamento de uma ampulheta, O método para detectar stress emocional através de variações da distribuição de peso de uma pessoa, O método para fazer colheitas de cana-de-açucar usando raios laser, O secador, o chapéu-de-chuva e os óculos para cães, e outras barbaridades.

O meu favorito: A patente norte-americana US 6811403:
"Método para activar imagens coloridas em material biodegradável com água e ácido úrico", isto é, nós urinamos e na sanita aparecem lindas figuras coloridas.

Algumas destas singulares patentes estão mesmo a ser usadas. Como o sistema de anúncios especial para o boxe: Anúncios tatuados nas costas dos boxeurs (basta ver o eurosport).

criopreservação de células estaminais

Proliferam rapidamente em Portugal empresas especializadas em criopreservação^** de células estaminais^* do cordão umbilical. Só este ano foram criadas 2 (Bioteca e Bebévida) e já existia 1 (Crioestaminal) a operar no mercado português anteriormente. Vendem todas a mesma coisa- Um kit de recolha de sangue do cordão para a altura do parto e a criopreservação do que é recolhido com esse kit durante 20/25 anos. Todas elas vendem um serviço que não inclui informar os potenciais clientes da utilidade real do que é recolhido e criopreservado.

Os biotecnólogos deste país parecem não ter ideias nenhumas para criar empresas úteis e produtivas. Como não têm estofo para mais decidiram copiar o que uma empresa já fazia em Portugal, quando parece óbvio que não há mercado suficiente para 3 empresas destas em Portugal. E decidiram logo copiar um serviço que do meu ponto de vista é muito pouco correcto eticamente. Não é ético porque.
- não é explicado aos clientes que as hipóteses reais de utilização desse sangue para curar o que quer que seja são baixíssimas.
- não está comprovado que seja possível preservar células estaminais durante mais de 15 anos em condições de serem utilizadas.

As 3 empresas que vendem este serviço, ao omitirem informação relevante sobre o assunto ao comprador, vendem na realidade gato por lebre. E cobram caro por um serviço que não vai além de meter um saco com sangue num congelador sofisticado. Digo não vai além de porque nenhuma destas empresas faz ou está ligada a hospitais ou unidades de investigação cientifica em medicina, não havendo lugar no contrato para o comprador vir a colher beneficios dos resultados que poderiam advir de investigação futura em células estaminais. Qualquer uma desta empresas cobra cerca de 1000 Euros por este serviço.

Numa entrevista o responsável pela empresa Bioteca, o Dr. Gonçalo Cabrita, diz que a empresa espera facturar no próximo ano, um milhão de euros. Uma pipa de massa pelo aluguer de um espaço no congelador! O Dr. Cabrita precisou de 2 pós-docs e um doutoramento no estrangeiro para criar uma empresa que é uma réplica fiel de outra que já operava no mercado português e que vende um serviço duvidoso. Com tanta formação podia ter tido uma ideia mais inspirada e original!

Quais as limitações da utilização destas células?
Em teoria poderão grande ter utilidade no futuro, mas actualmente o número de problemas de saúde em que se podem utilizar é muitíssimo limitado e não irá aumentar num futuro próximo. Têm sido utilizadas quase exclusivamente para tratamento de leucemias.
Um problema é o facto da quantidade de células recolhidas ser muito pequena (O cordão umbilical tem um volume de sangue pequeno), o que implica que o tratamento com estas células está limitado a crianças de tenra idade pois quando se necessita de mais volume de sangue para fazer a transfusão já não é possível. É portanto uma estupidez guardar as células durante 20 ou 25 anos quando estas só são úteis para transplantes em crianças muito pequenas. As técnicas utilizadas para contornar este problema e tentar tratar adultos não têm resultado.
Um outro grande problema é o facto de se o dador tiver anomalias genéticas, as células estaminais terem a informação genética dessas anomalias (isto é, não podem ser usadas para curar este problema, o que acontece por exemplo na leucemia).

Afinal como podem ser utilizadas estas células do cordão umbilical?
Estas células podem usar-se para transplantes no próprio dador. Uma necessidade muito rara- apenas 1 em cada 20 mil pessoas até aos 20 anos necessita deste tipo de transplante. Ou podem ser usadas em transplantes para receptores compatíveis. Evidentemente que quando se trata de bancos de células estaminais públicos a probabilidade das células virem a ser usadas é muito maior, mas no caso destas empresas a amostra recolhida destina-se unicamente ao cliente e familiares e não está disponível para outros receptores, reduzindo drasticamente as hipóteses de utilização.
A nível mundial o número de intervenções em que foram usadas células estaminais é actualmente de cerca de 3000 (isto mostra como é raríssima a sua utilização).

Quando é que devemos fazer a recolha e preservação do sangue do cordão umbilical?
Actualmente apenas se justifica se na sua família existem casos ou risco de leucemia, mas o melhor é consultar um médico especialista antes de decidir.



* Células estaminais - células indiferenciadas que podem replicar-se e transformar-se em vários tipos de células diferenciadas. Por essa razão têm sido apresentadas como uma esperança para regenerar tecidos afectados por doenças.
** Criopreservação - congelamento a temperaturas muito baixas ( cerca de -200ºC) em azoto liquído.

Cultura

As visitas culturais na Holanda incluíram uma rápida passagem por vários museus importantes. (Amsterdão foi excluída porque a visito frequentemente). Altamente recomendáveis foram:

O Boijmans de Roterdão: De tudo um pouco. Surrealistas, Pop art, alguns impressionistas e Old Masters. Uma secção contemporânea bastante boa. O meu favorito: A torre de babel de Bruegel, cujos detalhes magistrais não se conseguem ver na foto abaixo.
Na secção dos surrealistas um casal de putos com menos de 20 anos, quase que se babava para cima dos Dalis. Tomei nota mentalmente, que só em sociedades evoluídas como a Holandesa era possível ver jovens daquela idade a apreciar quadros em museus. Quando cheguei mais perto deles, estava a miúda fascinada a dizer ao rapaz: - Nunca tinha visto um Dali ao vivo.....
Eram portugueses! Os meus complexos de inferioridade cultural levaram logo ali uma bofetada bem dada...

O Mauritshuis em Haia: Colecção pequena de grandes mestres, sobretudo Rubens e Rembrandt, enfase no Séc. XVII. A abarrotar de turistas americanos que queriam ver rapariga com brinco de pérola de Vermeer, um quadro medíocre quando comparado com outros do autor, na minha pouco humilde opinião. Enfim, os americanos viram um filme e descobriram que aquele quadro existia!
O meu favorito: A lição de anatomia de Rembrandt (lamento mas não tenho fotografias deste).

O Gemeentemuseum de Haia: O meu interesse particular neste museu era a colecção de Mondrians bastante compreensiva. O museu tem sobretudo arte moderna. O edifício que o alberga foi projectado por um dos pioneiros da arquitectura moderna holandesa, Hendrik Berlage, e gerou polémica na época. É fácil perceber porquê: Eu senti que oscila perigosamente entre o Kitsch saloio piroso e uma obra de arte radiosa e perfeita. Não há outra forma de o dizer, oscila um milimetro mais para a esquerda e era grotesco, um milimetro mais para a direita e era sublime. Que dizer de galerias e corredores que acabam abruptamente, sem saída, onde temos de voltar para trás. E de escadarias cujas paredes foram pintadas com riscas pretas e brancas a fazer motivos geométricos que provocam ilusões ópticas nauseantes... Contudo poderia ter sido projectado a semana passada de tão modernas que são as soluções arquitectónicas.
O meu favorito: Victory Boogie Woogie de Mondrian.

E por último visitou-se o já citado Kröller-Müller.

Diferenças

A Holanda é o país da União Europeia com maior densidade populacional. No entanto, quando a visitamos não damos por isso, graças ao excelente planeamento urbano. Não têm qualquer cidade com mais de um milhão de habitantes, nem subúrbios dormitório à portuguesa. Em contrapartida têm muitas cidades com entre 100 e 250 mil habitantes. As cidades têm assim o tamanho ideal para se viver sem os horrores do trânsito caótico e das horas que se perdem em transportes e paciência. E é extremamente agradável poder passear pelas ruas pedonais.

A consciência ambiental e os principios ecológicos estão bem enraizados na esclarecida população holandesa. Deslocam-se de bicicleta para percursos curtos e poucas são as cidades que permitem carros no seu centro. E nalgumas o centro pode ser uma área bastante grande. Todas as cidades são dotadas de abundantes e ultra-seguros parques de estacionamento em torno do centro. Mas trazer o carro para o centro da cidade não é de todo incentivado e o custo do estacionamento pode mesmo ser astronómico ( por exemplo 2.50 €/h no centro de Utrecht). Registe-se que há mais Km de pistas de bicicleta no país que Km de estrada.

As bicicletas na Holanda servem para transportar tudo e mais alguma coisa: grades de cerveja, cães gigantescos, 3 ou 4 crianças de cada vez... Os mais estranhos items passam por nós periclitantemente equilibrados em qualquer parte do corpo dos exímios equilibristas que as conduzem. Os Holandeses e as bicicletas são como os mongóis e os cavalos, já nasceram a saber andar naquilo!

Frequentemente as bicicletas são dotadas de personalidade própria - condizem com os donos - E em ambos os casos a diversidade é enorme! As mais estranhas tribos cruzam-se connosco em cada esquina. De todas as cores, feitios, credos religiosos e alguns falando línguas incompreensiveis, estão perfeitamente integrados na sociedade. Liberdade total!

De resto andar de bicicleta parece ser a única coisa que safa os holandeses de serem obesos como baleias. Alimentam-se quase em exclusivo de fast food e comem a qualquer hora. Um must são as batatas fritas com maionese. Vendem-se em toda a parte em pacotes king size, trazem carradas de óleo e sal e ainda uma inenarrável maionese industrial em cima.
Não faço ideia em que possa consistir a comida tradicional porque não encontrei nenhum restaurante com gastronomia holandesa, encontrar restaurantes vegetarianos foi um pesadelo e a sopa é uma coisa desconhecida em 99% dos restaurantes- quando existe é sopa de tomate de pacote.
Os conselhos dos empregados de mesa sobre os pratos mais adequados do menu para alimentar crianças com 2 anos poriam os cabelos em pé a qualquer nutricionista. O mais frequente - Hamburguer com batatas fritas! Claro que nunca comeu tal zurrapa! Entre os excelentes lacticínios holandeses, fruta comprada em mercados, restaurantes chineses escolhidos a dedo e os víveres que a previdente família levou, comeu que nem uma lontra!

A Ciência é um Bem Público?

Interessante um artigo de Terence Kealey na Prospect de Outubro. Aparentemente sobre Francis Bacon (o político e filósofo, não o pintor), desenvolve-se falando da relação entre financiamento e desenvolvimento da ciência ao longo dos séculos, não esquecendo o nosso Henry " the Navigator".
Infelizmente "Henry" só tivemos um.

No Século XVI , já Bacon concluia que Espanha e Portugal lideravam o mundo porque descobriram e tiraram partido das riquezas de terras distantes- do oriente às américas. E como conseguiram isso? Bacon conclui que foi a invenção e aperfeiçoamento de instrumentos e meios de navegação que permitiu isso. Ou seja a Investigação Científica e a Tecnologia... "Knowledge was indeed power" diz ele no seu " The Advancement of Learning".

Com base nesse raciocínio Bacon propõe um modelo linear muito simples para o crescimento económico - A ciência gera tecnologia que por sua vez gera riqueza - e defende o financiamento da ciência pelos estados. No século XXI sabemos que estas relações entre ciência, tecnologia e crescimento económico são tudo menos lineares, mas há unanimidade quanto ao facto de a ciência e a tecnologia serem potenciadores do crescimento económico. Também sabemos que não só os estados têm interesse em financiar ciência, também há investimento feito pelo sector privado com benefícios visíveis.
Aliás, aparentemente, ao contrário do que Bacon defendia, o crescimento económico está intrinsecamente ligado ao financiamento da ciência por privados e os financiamentos públicos parecem prejudicar a economia. É o que se defende num relatório da OCDE de 2003 "The sources of economic growth in OECD countries" (Existe um review). O relatório analisa os factores que contribuiram para o crescimento das 21 economias mais importantes a nível mundial entre os anos de 1971 e 1998. Conclui que apenas o financiamento privado de I&D contribuiu para o crescimento económico. O financiamento público não só não contribuiu como prejudicou o crescimento económico. Pessoalmente tenho algum cepticismo em relação a esta conclusão e só terei uma opinião bem formada quando tiver lido mais opiniões independentes. Mas em aparência e ao contrário do que Bacon defendia - A ciência afinal não é um bem público.

Cara Nova

O Figmento está de cara nova- Adoptou uma cor mais outonal e actualizou os links ali à direita. Foram adicionados mais uma série de blogs de ciência e renovaram-se os links dos blogs generalistas retirando alguns que já estavam defuntos há um tempo.

Exciting

As Wadden Islands - neste caso apenas a ilha de Texel foi visitada - foram eleitas por unanimidade como o hot spot da Holanda. Sossego, Praia, Trilhos, Barcos, Aves, Vegetação luxuriante.
Milhas de trilhos entre dunas e plantas onde nos cruzamos com pessoas apenas de raro em raro. Os binóculos e a câmara tiveram bom uso para a observação de várias espécies de aves em nidificação. Ao longe os restos de um bunker da 2ª guerra mundial onde não chegamos a ir porque ficava mais longe que o que parecia.
A Praia é uma língua de areia branca gigantesca com vários quilometros que convida a praticar desporto e lazer, desde que não inclua meter-mo-nos dentro da água gelada.

O silêncio só é cortado pelos pios das aves e pelo sussurar do vento. As pequenas vilórias estão cheias de gente simpática e de casinhas pitorescas, como manda a tradição com grandes janelas sem cortinas- O bom protestante não tem nada a esconder no seio do seu lar. Pergunto-me se o bom protestante é livre de andar nú pela casa no verão. Depois lembro-me que esse problema não se coloca. A temperatura no verão por estas bandas ronda os 20 Celsius de máximo. A vontade de andar nú não deve ser muita.

Relaxing

Se esquecermos as estradas soporíferas, a Holanda tem muito a oferecer. Comecemos pelo fantástico Hoge Veluwe, um parque natural gigantesco cheio de trilhos para andar a pé ou de bicicleta (com bicicletas disponíveis para serem usadas). Alberga o famoso museu Kröller-Müller, que por sua vez tem um magnifíco jardim de esculturas.

Entre van Goghs lá dentro, Moores cá fora, espreitar veados por uns binóculos ou dar uma volta de bicicleta, há muito por onde escolher.

Boring

Falar da Holanda e de 15 dias a conduzir na Holanda resume-se mais ou menos a isto: Prados verdes, rectas compridas, terreno plano, vacas, prados verdes, rectas compridas, terreno plano, vacas, prados verdes, rectas compridas, terreno plano, vacas - creio que já apanharam a ideia....
A Holanda deve ser o país mais monótono do mundo para conduzir um carro.

Há ligeiras variações em que as vacas são substituídas por ovelhas ou cavalos de tempos a tempos...

E para quebrar a monotonia 1 mês depois recebemos pelo correio em Portugal uma bela multa por andar a 111 Km/h numa estrada em que o limite era 100 km/h.

Soltar a Lingua

Treine o seu inglês até atingir uma dicção perfeita:

Fácil:
Three witches watch three Swatch watches. Which witch watch which Swatch
watch?



Díficil:
Three Swedisch switched witches watch three Swiss Swatch watch switches.
Which Swedisch switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?

Roubado ao Arrumário.

O Gato do Rabi

Nas minhas deambulações recentes, eu que detesto fazer compras, parei para fazer compras de uma das minhas coisas favoritas- Banda Desenhada.
Sempre que saio do país dedico umas horas a fazer compras de quantidades maciças de coisas que não existem por cá ou que existem em qualidade sofrível. Desta vez foi o re-abastecimento de BD.

Sabendo que nas maiores lojas de livros cá do burgo a expressão "novela gráfica" não tem significado (Tentem encontrar a secção de novelas gráficas numa FNAC!) decidi comprar uma boa pilha delas.

Um dos livros que comprei, à pressa porque havia um avião à espera, pareceu-me bom na altura. Excelente desenho, qualidade gráfica irrepreensível...
De início ao folhear achei que o tema religioso (neste caso judaísmo)- A Estória de um rabi e seu gato- não me interessava mesmo nada. Mas ao abrir ao acaso numa página, decidi-me LOGO a comprar. Eis a página que me fez tomar a decisão.

Um gato que fala em Carbono -14....Um gato que contesta a autoridade religiosa... Já pró saco das compras!

O livro não é só bom, é muito bom. Proporcionou 3 horas de leitura fabulosa. Só no fim percebi que tinha ganho o prémio de Angouleme deste ano. Bem ganho!

O livro chama-se The rabbi´s cat e o autor Joann Sfar. Na Amazon está mais barato que o preço que dei por ele.

O Judaísmo é desmontado peça a peça, as outras religiões importantes também não escapam. O conflito entre diferentes culturas e gerações é abordado magistralmente. O Gato, carismático e independente, revela-se um racionalista céptico que quase leva à loucura um rabi com os seus argumentos desarmantes.
Algumas páginas conseguiram levar-me quase à histeria num local público onde estava a ler. Parte das pessoas presentes ficaram a pensar que gente como eu não devia sair à rua, os restantes ficaram apenas com inveja!

Dicionários Criativos

A nova edição do New Oxford American Dictionary vem cheia de palavras novas. Algumas acabadas de inventar....
É uma tradição incluir pelo menos uma palavra que não existe neste tipo de obras de referência. A ideia é proteger o copyright. Se a obra for copiada lá estará a palavra que não existe para o confirmar. Neste caso sabia-se que era uma palavra começada por e. Os especialistas debateram-se durante algum tempo para a tentar encontrar entre as mais de 3000 palavras começadas por e. Candidatos sérios eram:

• Electrofish - peixe com corrente eléctrica.
  
• EGD - tecnologia que integra um ecrán num par de óculos. Abreviatura de eyeglass display.
  
• ELSS - Extravehicular life support system.
  
• Eurocreep - a aceitação gradual do Euro nos países da UE que ainda não o adoptaram formalmente.

Mas afinal o termo cunhado era Esquivalience- acto de evitar conscientemente as suas responsabilidades oficiais.

Outras publicações optaram por palavras que saltam muito mais à vista como inventadas. É o caso do Music Lover´s Encyclopedia com a sua última entrada, o estrambótico zzxjoanw, supostamente um tambor maori!
Da segunda edição do Webster´s new international dictionary com Dord- supostamente significaria densidade.

Portugal desenvolve-se? Continuação...

A região Portuguesa com maior densidade de indústria, ID e serviços high-tech é sem surpresas Lisboa, onde 5% da população activa trabalha neste sector. Em Estugarda 21% da população trabalha em high-tech, em Malta ( uma ilha perdida no mediterrâneo, com um terreno rochoso e poeirento, infraestruturas péssimas e nenhuma tradição industrial ou académica) 8% da população trabalha em high-tech...

Quanto à educação, até nem estamos mal. O número de jovens entre os 20 e os 29 anos que frequenta o ensino superior em Portugal está acima da média da UE, mas longe dos valores dos países nórdicos. A despesa pública na educação também está acima da média europeia (o que não quer dizer que seja dinheiro bem gasto - As universidades navegam à vista, sem um plano estratégico de desenvolvimento nem objectivos a cumprir. O governo financia mas não exige nada em troca no que diz respeito a padrões de qualidade ou produtividade).

Quanto à inovação, na Áustria e no Luxemburgo cerca de 80% das empresas de grande dimensão (+ de 250 empregados) estão envolvidas em actividades de inovação e introduzem novos produtos no mercado. Os mercados são muito receptivos a produtos novos. São sobretudo as grandes empresas que se envolvem em actividades de inovação devido aos elevados custos (isto prova que para os pequenos é vantajoso trabalhar em conjunto formando clusters e joint-ventures). A Finlândia e os países do Báltico lideram em relação a acordos de cooperação com parceiros para inovar. Os números para Portugal são decepcionantes.
Uma forma de medir a capacidade de inovação de um país é o número de pedidos de patentes submetidas. A Alemanha, a Dinamarca, a Holanda, a Suécia e a Finlândia são actualmente os líderes europeus em número de patentes por milhão de habitantes. Portugal apresenta apenas uns pífios 4 pedidos de patente por milhão de habitantes em 2002, contra 311 da Finlândia. Temos uma das piores performances da europa em termos de pedidos de patentes...

O semanário económico desta semana traz mais notícias deprimentes: Portugal cai 40 posições na captação de IDE (investimento directo estrangeiro). Um dos problemas apontados é a falta de medidas para atrair investimento outro é o fraco investimento em investigação e indústria. Ficamos à espera do choque tecnológico.

Gigantic Turd

Isto é tudo muito engraçado , mas o post abaixo já foi postado umas 10 vezes.
O blogger continua a recusar o resto do texto.
Insiste em que o blog deixe de ter links mesmo sem eu ter mudado nada no template e desformata todo o post.
Uma palavra demora uns 3 minutos a ser efectivamente escrita na janela dos posts....

Mas que trampa é esta? Estará na altura de mudar o meu blog para outro sitio?
Não há paciência....

Portugal Desenvolve-se? II

Uma vista de olhos rápida pelas estatísticas recentes do Eurostat, permitem ver que evolução teve o nosso país recentemente. Comecemos pelo investimento (público+privado) em % do PIB em ID (investigação e desenvolvimento). No gráfico abaixo compara-se Portugal com outros países e com a média na união europeia (UE).

Portugal fica-se por uns míseros 0,79%. As dinâmicas economias escandinavas que fazem parte da UE apresentam 4,27% e 3,51%. Os Estados Unidos investem 2.76% do PIB e a Alemanha 2,5%. Acrescente-se ainda que em Portugal este investimento é suportado em grande parte por dinheiros públicos ao passo que noutros países o sector privado é o principal investidor em ID.
Conclusão: Em Portugal ainda não percebemos que a Investigação e Desenvolvimento é um factor chave para uma economia competitiva. E os 3% da estratégia de Lisboa não parecem ser para cumprir.

Em relação ao mercado de trabalho de ID, os países escandinavos surgem também como líderes europeus. A Finlândia emprega 3% da sua população em actividades de I&D. Uma boa parte trabalha em grandes empresas. O paraíso de qualquer doutorado!
Portugal tem um mercado de trabalho de ID reduzidissímo, pior que nós na UE só o Chipre. Menos de 1 em cada 100 pessoas trabalha em ID em Portugal (0.77%). A divisão destes empregados por diferentes sectores em Portugal é confrangedora, como se vê na figura seguinte (BES- sector privado, GOV- Governo, HES- Instituições de educação universitária, PNP- Organizações com fins não lucrativos):

Em Portugal as universidades são os grandes empregadores. Nos colossos industriais europeus (Alemanha, Itália, França e Reino Unido), que são responsáveis entre outros por 70% da indústria química europeia, o sector privado emprega uma fatia muito maior de pessoas, com o Reino Unido à cabeça com 90%.

Olhando para as estatísticas regionais europeias verifico que são muito poucos os países que têm regiões com elevada densidade de indústrias e de investigação em alta tecnologia. No top das regiões high-tech surgem 13 regiões alemãs, 3 finlandesas (provavelmente as únicas onde se consegue trabalhar sem ficar gelado), 3 francesas, 1 holandesa, 4 suecas, 1 do reino unido e 1 italiana. Estas estatísticas usam como base o investimento regional em I&D e o número de empregos regional em I&D.

Nobel da Química 2005

Foi atribuído a Yves Chauvin (Francês), Richard Schrock e Robert Grubbs (Norte-americanos) pelas descobertas em torno das reacções de Metátese. As reacções de metátese são reacções catalíticas usadas em síntese de compostos orgânicos. As aplicações mais importantes são na indústria de polímeros (plásticos e borrachas) e na farmacêutica. A síntese permite a criação de novas moléculas com aplicações diversas. Neste tipo de reacções de síntese grupos de atomos envolvidos em ligações duplas trocam de lugar entre si. Um exemplo:

Neste caso o grupo CH-CH₃ troca de lugar com o grupo CH₂. O Sr. Chauvin explicou pela primeira vez como se davam estas reacções e a explicação recebeu o nome de mecanismo de Chauvin. Os Srs. Grubbs e Schrock usando a informação do Sr. Chauvin conseguiram desenvolver catalisadores muito eficientes. Os catalisadores são compostos que não intervém directamente na reacção mas que são necessários para que ela ocorra (por exemplo porque aceleram a reacção).

Do Lazer!

Excerto do jornal Expresso online de hoje referente ao prémio Nobel da Física:

"O prémio, no valor de 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhões de euros) será dividido em duas partes. Uma delas será entregue a Roy Glauber, pela sua descrição teórica do comportamento das partículas de luz.

A outra metade irá para John Hall e Theodor Haensch por terem desenvolvido a espectrografia de precisão com base na tecnologia lazer, ou seja, a determinação da cor da luz de átomos e moléculas com extrema precisão - explica o comunicado."


É sempre bom saber que ainda há cientistas que conseguem ganhar prémios Nobel e trabalhar em "tecnologia lazer"!

De resto toda a "notícia" não passa de uma tradução mal feita de excertos do comunicado de imprensa do comité Nobel, chegando mesmo a confundir precisão com exactidão. O texto resultante não informa ninguém, sendo incompreensível para o cidadão comum.

Portugal desenvolve-se?

O grande público lê/vê frequentemente infografia com informação apresentada sob a forma de indicadores (por exemplo os indicadores estruturais do Eurostat permitem medir o desenvolvimento de países) mas poucos sabem realmente o que é um indicador e que limitações tem. Um indicador é um parâmetro cujo valor tem um significado que vai para além do mero valor numérico. É construído condensando grandes volumes de dados e com base em 3 grandes regras:

- Mensurável – Os dados usados para calcular o indicador estão disponíveis, são medidos de acordo com critérios científicos válidos internacionalmente e são medidos periodicamente. Se não se podem obter os dados ou se os dados não têm qualidade, o indicador é inútil.
- Analiticamente sólido – Baseia-se em princípios técnicos e científicos reconhecidos internacionalmente.
- Relevante para o utilizador (frequentemente um decisor politico) - Os indicadores só têm interesse se poderem ser utilizados para dar informação sobre uma dada situação ou para fazer comparações geográficas ou temporais. Se forem irrelevantes são inúteis!

Dito isto para que serve um indicador?
Principalmente para medir performances e evoluções, ajudar a escolher prioridades politicas/legislativas e comparar regiões/países. E atenção, um índice não é a mesma coisa que um indicador. Um índice agrega informação de vários indicadores, directamente ou usando pesos.

Os indicadores são uma boa ferramenta , mas têm defeitos. Pelo facto de agregarem volumes de dados consideráveis, perdem detalhe porque generalizam muito e podem por vezes conter erros sobretudo se houver lacunas de dados.

Na semana passada li um artigo que posso considerar no mínimo hilariante no jornal Público (29 Setembro). Era um artigo sobre competitividade mundial. Nele comparava-se a competitividade de vários países com base em índices. A base para o artigo era o relatório anual do FEM (Forum Económico Mundial) sobre competitividade global.
Portugal surgia classificado em 22º lugar, à frente da Espanha, França, Bélgica e Irlanda. Claro que este resultado não faz sentido. E os jornalistas que escreveram a peça não tiveram espírito critico para o contestar. Não faz sentido porque parte dos indicadores que foram usados para calcular o índice são desadequados ou foi-lhes dado um peso que não é realista. Um dos indicadores usados era “número de utilizadores de telemóveis por cada 100 habitantes” outro era “influência da ameaça de terrorismo no clima económico” e por aí fora. É verdade que o nosso país tem muitos utilizadores de telemóvel. Mas isso não significa nada em termos económicos. Os telemóveis em Portugal são usados sobretudo por razões pessoais e não profissionais. E não fabricamos nenhum componente de telemóveis, nem temos nenhum papel relevante no desenvolvimento de redes de telecomunicações. Quanto à ameaça de terrorismo …estamos completamente despreocupados. Porque uma bomba no nosso país é mais irrelevante que um iraquiano com o cabelo pintado de rosa choque. Concluindo, este índice de competitividade vale o que vale e a sua interpretação generalista sem ter em conta a especificidade regional não produz bons resultados!

Visões da ciência

Na imagem acima: Cristais de paracetamol em crescimento numa película de solução sobresaturada.

A fotografia acima pertence ao concurso de fotografia científica da BBC- visions of science e escolhi-a por ser particulamente bonita e porque estou com dores de cabeça. No site do concurso existem outras igualmente excelentes.

Explicação para leigos:
Nas soluções sobresaturadas a concentração de soluto é superior à solubilidade, isto é existe lá mais material dissolvido do que a quantidade que o solvente seria capaz de dissolver em condições normais. Para obter este tipo de soluções recorre-se normalmente à manipulação das condições de temperatura e pressão de uma solução saturada. A tendência deste tipo de soluções é voltarem a atingir um equilibrio. No caso acima isso ocorre através da cristalização.
Soluções sobresaturadas correntes são todas as bebidas gaseificadas, desde a cerveja à coca-cola. A tendência destas soluções depois de aberta a garrafa ou lata (manipulação da pressão) é perderem o gás.
O paracetamol é o princípio activo de vários medicamentos para a dor de cabeça. Infelizmente não tenho nenhum à mão!

No mesmo concurso, uma foto que também tem a ver com dores de cabeça, neste caso com a enxaqueca, uma doença mais ou menos crónica:

Representação de um celeiro visto por uma pessoa que sofre de enxaqueca. A enxaqueca provoca várias anomalias visuais ( uma delas é o efeito de aura patente na figura).

O primeiro do Século

Eclipse, pois claro! O próximo vísivel em Portugal só será em 2028.

Acabei de o ver há pouco mais de uma hora atrás. Frio, sombras prateadas e menos luz durante uns 10 minutos. E que sorte estar numa zona do país onde se viu mais que bem. Foi pena não ser total, mas não se pode ter tudo!
O Eclipse foi anelar, ou seja a lua tapou o sol mas não totalmente porque a circunferência formada pela lua tem um raio menor que a do sol. Nalguns casos o eclipse pode ser total, porque apesar da lua ser menor que o sol, está mais próxima da terra. Isto permite que em certas posições haja uma cobertura total do sol pela lua.